Ivete Sangalo dribla imprevistos e dá aula de liderança no Carnaval 2024

Fabricia Navarro

Ivete Sangalo mostrou neste Carnaval que transpassou a linha da musa e se mostrou a grande líder que coabita a cantora.

A frase “É a Veveta que tá no comando”, do seu mais recente sucesso, não poderia ser mais oportuna. Em 2024, Ivete mostrou o que é estar à frente de uma operação complexa, com desafios e imprevistos. Foi quase uma corrida de 100 metros com barreiras, que exigiu da diva baiana um repertório extenso de habilidades para contornar problemas e achar soluções rápidas, eficientes e seguras. Uma aula de comunicação com diferentes pontos de contato e de maestria ao ser colaborativa e assertiva ao mesmo tempo.

Há meses, de forma estratégica e sistemática, ela trabalha o lançamento da nova música “Macetando”. Ela deu tudo para emplacar o sucesso, sabendo que, nessa era digital, não basta uma melodia que gruda na mente e que ninguém fica parado. É preciso estratégia, consistência, investimento de tempo e de dinheiro – e dancinha, por que não? Ela aprendeu os macetes do marketing digital e de influência e colocou o hit para viralizar. Estruturou uma campanha de marketing em que exibiu desde a difusão da música, montagem de coreografia até vários influencers cantando e dançando em uma estratégia de comunicação consistente.

Podemos dizer que qualquer brasileiro com acesso às redes sociais foi impactado, em algum momento, por essa ação estruturada: a parceria com a Ludmilla, os passinhos de TikTok para embarcar a geração Z, o convite para Anitta estar em cima do trio com ela. Até Leo Santana, teoricamente seu concorrente, fez a dancinha de “Macetando”. Não deu outra. A música colocou Ivete pela primeira vez na 1ª posição no top 50-Brasil do Spotify e foi escolhida hit do Carnaval 2024 pelo Troféu Bahia Folia. 

Este, talvez, tenha sido o Carnaval em que os desafios de Ivete ficaram mais evidentes para o público. A cada dia, um novo problema. E ela foi driblando tudo com excelência: atraso de três horas na saída do trio por problema técnico, explosão do tubo de gás carbônico e o quase tombamento do trio. Para coroar a maré de problemas, houve ainda o encontro apocalíptico com Baby do Brasil.

Quando ela começa a enfrentar os imprevistos, ficam evidentes habilidades que valem para todos nós que lideramos pessoas e projetos, ocupamos, em algum momento, uma cadeira de “comando”. Skills não tão óbvias, mas que fazem toda a diferença no resultado final:

Vulnerabilidade: Ela chorou em cima do trio e dividiu com a multidão a agonia causada por esses imprevistos. Ser vulnerável não é ser fraco. Ivete é incrivelmente espontânea, sensível e humana. Ela usou a oportunidade para refletir sobre a necessidade de transformar, de criar outras oportunidades que continuem a conduzi-la por um caminho de sucesso. Quando envolvemos quem nos cerca, angariamos apoio e suporte.

Confiança: Ela é uma pessoa que confia e é confiável. “Tem horas que você precisa parar para respirar e resolver, e tudo vai acontecer da melhor maneira – faz parte da vida da gente – não adianta levar a coisa na marra – perceber os sinais que está recebendo, e saber o que fazer com isso”, disse. Ela parece compreender que se algo requer um esforço excessivo, talvez não seja o caminho natural ou a melhor decisão.

Percepção aguçada: Quando o clima esquentou e havia princípios de confusão, Ivete entendeu que não era hora de inflamar a multidão. O povo pedia “Macetando”, mas ela optou por uma música mais lenta para acalmar o público aglomerado em volta do trio e trazer as pessoas para perto de si. Tem horas que é preciso sair do planejado e entender as nuances do momento.

Comunicação eficiente: Ivete se comunica com otimismo e, no imprevisto, se demonstra precisa, articulada, assertiva tanto naquilo que diz como na tomada de decisão eficiente. Ela engloba visão sistêmica e proatividade por uma lente positiva, o que torna ainda mais humana e gera conexão imediata com as pessoas.

Participei de ativações de grandes marcas no carnaval de Salvador e posso dizer que senti um pouco da pressão de ter uma multidão em volta com potencial para gerar uma situação descontrolada e sem estrutura para reagir com a rapidez necessária a eventuais problemas. Vale lembrar que ser líder não é acertar sempre. Ivete não coleciona só acertos – assim como nós, meros mortais. Ela erra e aprende com os erros, evolui a partir deles e segue adiante com novos aprendizados.

Por isso, admiro ainda mais Ivete e penso em quanto podemos aprender ao observar como esse fenômeno canaliza energias, dispõe seus recursos e resolve problemas. Se cada um de nós puder ser só um pouquinho Ivete, todo mundo sairá ganhando.